Da prova ao PTT: Por dentro do processo de licenciamento da estação

Por Alisson Teles Cavalcanti, PR7GA

Iniciamos neste QTC informativo uma coluna com dicas sobre o processo de licenciamento de uma estação de radioamador, desde as provas até a efetiva operação.

Em primeiro lugar, é preciso definir alguns termos.
  1. RADIOAMADOR é o operador da estação de RÁDIO. Muitos ainda confundem este termo, chamando de RADIOAMADOR os equipamentos de uma estação, e assim ouvirmos nos noticiários manchetes como “Preso homem portanto diversos RADIOAMADORES na BR230”, ou “A Polícia Federal apreendeu vários RADIOAMADORES que estavam em poder de caminhoneiro”. Mas reiteramos que a palavra RADIOAMADOR se refere a nós, seres humanos, e não a equipamentos.
  2. ESTAÇÃO DE RÁDIO é o conjunto de equipamentos, cabos coaxiais, antenas, etc que, juntos, permitem a transmissão e a recepção de ondas eletromagnéticas, mais conhecidas por nós como RF. Novamente muitos erram ao restringir a palavra ESTAÇÃO como se se tratasse apenas do “quarto” aonde o radioamador mantém seus equipamentos. Mas não é apenas isso. ESTAÇÃO também se refere aos equipamentos móveis ou portáteis, e assim, um simples HT ICOM ou BAOFENG é TAMBÉM uma estação, já que, por si só, é capaz de transmitir e receber sinais de rádio.

Desta forma, podemos apresentar os dois documentos mais importantes para o radioamador: o COER e a LICENÇA de estação.

O COER é o documento que habilita uma pessoa a operar uma estação de rádio. Sem ele, não é possível nem ter uma estação, nem operar uma sozinho. É similar à Carteira Nacional de Habilitação, a conhecida CNH. Sem ela, não é possível dirigir um automóvel. E assim como a CNH, para obter o COER é necessário comprovar determinados conhecimentos prévios, e isto é feito através de exames ou provas. E também analogamente à CNH, para cada classe do radioamador, as exigências variam. Para a Classe C, são duas provas: Legislação de Telecomunicações e Ética e Técnica Operacionais. Para a Classe B, acrescenta-se os exames de Recepção e Transmissão de código Morse e Conhecimentos Básicos de Radioeletricidade. E para a Classe A, o último exame, que é o se Conhecimentos Técnicos de Radioeletricidade.

Aprovado nos exames e de posse do COER, a pessoa já pode operar uma estação de radioamador. O COER é vitalício, e só perde a validade em casos excepcionais como a promoção para uma classe superior, morte ou por alguma penalidade. Mas apenas com o COER não se pode ter uma estação própria. Para isso, é necessária a LICENÇA de funcionamento.

A licença é, por assim dizer, o registro de nascimento do radioamador, pois ele poderá assim montar e operar sua própria estação e ter seu próprio indicativo. No Brasil, a licença é atrelada ao COER, portanto, para cada classe, uma licença diferente é requerida. Ao radioamador é facultado escolher o seu próprio indicativo, dentro de parâmetros preestabelecidos e de acordo com os indicativos vagos.

É hora de tratarmos sobre a ESTAÇÃO.


Ter sua própria estação de rádio é o objetivo mais importante para todos aqueles que entram no radioamadorismo. Mas será que você sabe como montar sua própria estação?

A Anatel define que todos os equipamentos de telecomunicação devem ser por ela HOMOLOGADOS para que possam ser operados. Com o radioamadorismo, isto não é diferente, com a única exceção dos equipamentos de fabricação própria. Assim, a menos que o radioamador monte seus próprios equipamentos, ele deverá operar apenas equipamentos homologados, seja pela loja aonde o equipamento é comercializado, seja por ele próprio. O custo para homologar é fixo e custa 200 reais por equipamento, não importando suas características ou valor.

Além de operar equipamentos homologados, ao radioamador não é permitido alterar as características do equipamento, como por exemplo, para “abri-lo” para que transmita em outras faixas de frequência fora das autorizadas. Caso faça isso, em caso de fiscalização o equipamento poderá ser lacrado pois a homologação perde o valor. Por isso, muito cuidado!

Para que sua estação lhe traga alegrias e não dores de cabeça, alguns cuidados devem ser tomados. Dentre os mais importantes, destacamos os seguintes:

1. Providencie o adequado ATERRAMENTO de todos os itens que compõem sua estação: Fontes de alimentação, rádios, chaves e acopladores de antena, amplificadores lineares, e até mesmo estantes metálicas devem estar devidamente conectadas por conecções curtas a um BARRAMENTO, e este, por sua vez, deve estar ligado no mínimo a uma haste de aterramento localizada o mais perto possível da estação. Desta forma, prevenimos não só os choques elétricos, mas também diminuímos o famigerado QRM que assola principalmente as faixas mais baixas. Cada equipamento deve estar conectado DIRETAMENTE ao BARRAMENTO numa ligação direta. Evite conectar os equipamentos um ao outro, como num carrossel. Ao contrário, use fios curtos para ligar cada um individualmente ao barramento.

2. Ao instalar suas antenas, NUNCA as coloque acima de para-raios, pois isto vai transformar as mesmas em para-raios. Convém também instalá-las longe do alcance de pessoas e animais, pois as pontas das antenas, especialmente as dipolos, podem acumular tensões perigosas e causar queimaduras graves em quem tocá-las durante a transmissão. Existem normas que devem ser seguidas para isso, mas como regra geral, reserve no mínimo uns 6m de distância.

3.  Outro ponto importante é a acústica. Caso instale sua estação numa sala vazia, é comum esta gerar “ecos” ou “reverberação” que podem deixar a modulação difícil de ser entendida. Para evitar isso, quanto mais se “encher” a sala com estantes, livros, móveis e outros objetos, melhor. Cortinas também costumam ajudar. Outra opção é falar o mais próximo possível do microfone e diminuir seu ganho, se possível. Assim, deixamos o mesmo menos sensível e assim mascaramos os ecos indesejados.

4.  Outra dica é manter um registro dos contatos realizados. Toda estação organizada mantém um registro de todos os contatos feitos, seja para efeito de colecionar entidades ou países para conseguir diplomas, seja para o registro legal. Tenha o costume de anotar os indicativos QRGs e datas de seus contatos. Isto pode ser feito utilizando um simples caderno escolar ou por meio do computador e até do celular. Existem inúmeros programas e indicativos que vêm em auxílio nosso, e em sua maioria, são gratuitos.




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