Por Alisson, PR7GA
Pelo Brasil afora, muitas pessoas têm interesse em aprender Telegrafia. Em que pese a grande quantidade de bons cursos e métodos de morse disponíveis online e de forma gratuita, nada se compara a aprender a arte da Telegrafia via rádio, ou ao menos com a ajuda de um instrutor de carne e osso, ao vivo.
Pelo Brasil afora, muitas pessoas têm interesse em aprender Telegrafia. Em que pese a grande quantidade de bons cursos e métodos de morse disponíveis online e de forma gratuita, nada se compara a aprender a arte da Telegrafia via rádio, ou ao menos com a ajuda de um instrutor de carne e osso, ao vivo.
Mas aí, muitos enfrentam um grande problema: o custo e a dificuldade em montar uma estação em HF, faixa aonde a Telegrafia é praticada de forma contínua. Muitos jovens radioamadores, por "N" fatores, muitas vezes só dispõem de um HT para as faixas de VHF/UHF. Como estes só operam em fonia/FM muitos pensam que seria impossível (e até mesmo ilegal) praticar Telegrafia nas faixas altas, e muito menos por meio das muitas repetidoras VHF/UHF analógicas que existem por aí ao alcance de um Baofeng e antena "bananinha". Ledo engano!
Neste artigo, mostraremos que sim, é possível sim, tanto do ponto de vista legal, quanto do ponto de vista ético, praticar Telegrafia utilizando um HT e com o auxílio de uma repetidora.
Em primeiro lugar, vamos fazer uma distinção importante que muitas vezes passa despercebida entre CW e Telegrafia.
CW, sigla em inglês para "onda contínua", consiste numa transmissão pura, sem modulação, em que a portadora é "ligada e desligada" em intervalos regulares para transmitir informação. E esta informação, no caso mais comum (mas não o único), consiste na nossa "velha" e boa Telegrafia.
Observe que muitos de nós utilizamos o termo "CW" como sinônimo de "Telegrafia", mas isto não é inteiramente correto, pois a Telegrafia existe independentemente do "CW", sendo que este é apenas uma das muitas formas que existem de transmitir o código Morse.
A Telegrafia pode ser transmitida por muitos meios. Os escoteiros e a Marinha, por exemplo, utilizam o código Morse transmitido via luz, com lanternas. Ainda existem, em certos aeroportos brasileiros, o sistema de radiolocalização aeronáutica denominado "RADIOFAROL" ou "NDB", que até antes do sistema GPS ser amplamente difundido, era uma das formas mais importantes dos pilotos de aeronaves se localizarem em voo. Pois bem, os radiofaróis utilizam Telegrafia, mas não em CW. Neles, um transmissor da faixa de LF transmite os bipes do código Morse, só que modulados em AM.
As populares repetidoras analógicas das faixas de 2 metros e 70 centímetros, com raras exceções, transmitem suas identificações também utilizando a Telegrafia. Só que seus bipes são modulados em FM. Do contrário, você com seu rádio Yaesu ou seu HT Baofeng não poderia ouvir, caso elas transmitissem em CW, pois estes rádios mais comuns só recebem sinais em FM.
Em suma: Telegrafia é informação. CW, FM, AM, etc, são meios de transmitir informação.
Dito isto, vamos ao que diz nossa legislação.
No Brasil, na data em que este artigo foi escrito (janeiro de 2021), há duas normas principais que regem o radioamadorismo publicadas pela ANATEL. A Resolução 449/2006 que define a natureza e as normas gerais do Serviço de Radioamador, e a Resolução 697/2018 complementada pelo Ato Normativo 9106/2019, que definem as faixas de frequência que podemos operar e o que pode ser transmitido dentro de cada uma delas.
Na primeira resolução, a 449, vemos em seu Art. 48 o seguinte:
Art. 48. A estação repetidora poderá transmitir unilateralmente, sem restrições de tempo, nos seguintes casos: I - Comunicação de emergência; II - Transmissões de sinais ou comunicados para a medição de emissões, observação temporária de fenômenos de transmissão e outros fins experimentais autorizados pela Anatel; III - Divulgação de boletins informativos de interesse de radioamadores; IV - Difusão de aulas ou palestras destinadas ao treinamento e ao aperfeiçoamento técnico dos radioamadores.
Veja que a norma menciona o treinamento/aperfeiçoamento técnico como uma das exceções que permitem às repetidoras funcionarem sem o limite de tempo e, principalmente, de forma unilateral: caso em que um instrutor apenas transmite, e os outros apenas ouvem. Grato ao Pepe PY2PP/PY5QQ pela dica!
Especificamente no Ato 9106, existem subfaixas exclusivas para as repetidoras nas quais legalmente só pode ser utilizada a Fonia em FM ou DV (Digital Voice, como as redes DSTAR, DMR, etc).
Tomemos como base a faixa de 2 metros. Porém, o que iremos comentar aqui vale para qualquer faixa aonde existem repetidoras. Veja a tabela abaixo, retirada do referido Ato 9106, aonde destacamos apenas as subfaixas destinadas às repetidoras:
Agora, observe as colunas em VERMELHO. Vemos que, de fato, só é permitido FONIA FM/DV nas repetidoras. Nada demais, pois todos sabemos disso.
Mas e aí? Será que não podemos praticar Telegrafia modulada em FM pois a tabela só menciona FONIA? Aparentemente sim, a julgar só por esta tabela... Porém, vejamos outro trecho da mesma norma, o Anexo A, que trata dos modos de transmissão autorizados. Em seu ponto 10, ela diz:
A.10. Morse FM ou PM – Morse em modulação FM ou PM com a finalidade de identificação da estação ou prática de telegrafia, é tratado como Fonia FM ou PM. Transmissões telegráficas do código internacional Morse em modulação de fase ou frequência:
(modulação em frequência) ou PM (modulação em fase), é tratada como FONIA. E mais, veja que a norma menciona, como finalidade, a "prática de telegrafia". Mais claro, impossível.
Mas mesmo assim, vamos resumir:
- CW é meio ou modo de transmissão, assim como AM, FM, etc;
- Telegrafia ou código Morse é a informação transmitida;
- Nas repetidoras, legalmente só é possível utilizar FONIA. CW não é permitido;
- A Telegrafia, quando modulada em FM, é tratada pela norma como sendo FONIA;
- Assim, É PERMITIDA a prática de Telegrafia modulada em FM nas repetidoras.
Como praticar Telegrafia via repetidora?
Antes de mais nada, como radioamadores éticos que somos, não podemos atrapalhar o uso que os outros colegas podem fazer da repetidora. E bom escolher um horário em que ela é pouco utilizada e, super importante, ATENTAR PARA O "TIMER" ou tempo máximo em que a repetidora pode transmitir continuamente. Legalmente, este tempo nunca é superior a 3 minutos. Assim, é de suma importância manter os câmbios não muito longos, dando tempo para a repetidora "respirar".
Outra recomendação importante é explicar, sempre da melhor forma possível, que a telegrafia modulada em FM via repetidora é legal (em todos os sentidos!). Convém ter sempre à mão os trechos da norma citada neste artigo. Alguns colegas poderão estranhar, acharão esquisito, e até podem reclamar. Mas nada como uma boa conversa para dirimir as dúvidas, sempre de forma educada.
Finalmente, uma boa dica é sempre se identificar em fonia, falando ao final da transmissão em morse algo como "aqui é PY tal, transmitindo código morse". Certamente um ou outro curioso irá ficar ouvindo, tentando entender, e, quem sabe, poderá juntar-se à turma.
Certa vez, há alguns anos, eu próprio mantive um curso de Telegrafia via repetidora durante alguns meses aqui na Paraíba. Cheguei a ministrar a aula para três turmas, três ou quatro vezes por semana, desde os iniciantes até os avançados. As aulas iniciavam às 21h e duravam no máximo 30 minutos. Enfrentei esta estranheza de alguns, mas após explicar direitinho, acabei ganhando mais alunos.
Dito isto, para transmitir Telegrafia modulada basta um oscilador (que irá produzir o som), uma chave telegráfica ou manipulador para poder gerar o código e um transmissor para enviar o sinal à repetidora. A forma mais fácil de fazer isso é, por exemplo, baixar um aplicativo que gere os sons e instalar no celular. Para transmitir, basta aproximar o autofalante do celular do microfone do rádio e... pronto!
Se o objetivo é transmitir aulas de telegrafia, o professor pode utilizar seu rádio HF, que normalmente já dispõe de oscilador, e desligar a transmissão, deixando o rádio apenas produzindo os sons e aproximando o microfone de seu rádio VHF/UHF do autofalante. Ou então, baixar um aplicativo que irá gerar automaticamente os sons a partir de um texto.
Outra forma de gerar os sons é montar seu próprio oscilador, usando somente componentes de sucata, como no exemplo abaixo:
Já se o objetivo for praticar contatos, com cada participante transmitindo e os outros recebendo um de cada vez, uma ideia interessante é cada um montar seu oscilador. É muito legal e ajudará a perderem o medo, causa número um de muitos nunca se aventurarem nas faixas e começarem a caçar as figurinhas nas subfaixas de CW/telegrafia.
Após a publicação deste artigo, recebemos do Pepe PY2PP/PY5QQ o seguinte:
Fazemos treinamentos todas as semanas às Quartas e Sábados as 19 h, pelo Echolink na conferência AMBRASIL e também pela rede DMR no TG 724940, saindo em repetidoras o ano todo sem parar. No momento, estamos em recesso mas voltamos dia 20 de Janeiro às 19h. Treinamento dedicado aos inciantes 20 min, aos médios com textos extraídos do manual de técnica e ética operacional da IARU e no final textos a 15 PPM pra tirar o endurecimento da bigorna e o martelo do ouvido.
E aí? Pronto para começar? Junte os interessados, combine um bom horário, seguindo as recomendações acima, e bons estudos!
Viva a Telegrafia!
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