EDITORIAL – E quando o clandestino é licenciado? Reflexões sobre a "faxinha"

Por Alisson Teles, PR7GA


Todos sabemos o prejuízo que certas pessoas desocupadas causam às nossas comunicações através das famigeradas “portadoras”. Em outros QTCs já tivemos a oportunidade de tratar deste tema e na ocasião fizemos algumas sugestões sobre como devemos tratar este problema. Por outro lado, também sabemos que muitas pessoas, inadvertidamente ou não, entram em nossas QRGs sem serem autorizadas para tal, ou seja, são os chamados CLANDESTINOS.

Hoje, porém, gostaríamos de tratar de uma questão tão sensível quanto séria: E quando o clandestino é licenciado?

Não se trata de erro de digitação ou jogo de palavras. Estamos falando de pessoas que possuem um indicativo, portanto, foram submetidas a um ou mais exames e foram APROVADAS para o radioamadorismo, mas que, como que cuspindo no seu COER, operam clandestinamente, sorrateiramente, ao arrepio da lei e sobretudo da ética. Falamos da famigerada e criminosa “FAXINHA”.

No Brasil, bem como em todo o mundo, o uso das telecomunicações é regulado pelo Estado, que detém o poder de autorizar ou não seus usuários. Todo aquele que deseja operar um sistema de telecomunicações obrigatoriamente deve ter a autorização expressa para isso. E mesmo após obter essa autorização, mediante devido processo legal, a qualquer momento esta autorização pode ser revogada.

 

Como usuários das faixas de telecomunicações, todos os radioamadores têm autorização para operar em determinadas frequências. As nossas faixas, cujo número é maior do que qualquer outro serviço de telecomunicações no Brasil, estão disponíveis para qualquer radioamador fazer uso, de acordo com sua classe. Nelas, podemos operar em fonia, telegrafia, enviar e receber texto, imagens, e até comunicação de dados(internet). E em nossas faixas, NINGUÉM mais pode operar. Absolutamente ninguém que não seja radioamador.

Dito isto, voltemos à famigerada e criminosa “faxinha”. Não sabemos quem foi o autor nem quando a teve, mas um belo dia, alguém teve a “brilhante” ideia de ligar um rádio da faixa do cidadão por meio de um equipamento chamado “TRANSVERT” para operar abaixo da faixa de 40 metros.  O objetivo? Bater papo longe dos “olhos e ouvidos”. Logo esta chamada “faxinha” ficou repleta de gente que se identifica (ou melhor, se esconde) por trás de pseudônimos. Conversando diariamente, e até cordialmente, alguém poderia até pensar que se tratasse de mais uma rodada como as muitas que povoam a faixa dos 40 metros, mas o “dial” do rádio acusa a ilegalidade: 6.925KHz.

 

Se os que lá operam fossem todos clandestinos segundo a acepção usual do termo, ou seja, pessoas que não detém licença para operar, esta história não nos chamaria a mínima atenção. Porém, o que nos causa espanto e revolta é que muitos destes criminosos (pois quem pratica crime assim deve ser chamado, e operar sem autorização é crime) são pessoas licenciadas, seja no radioamadorismo, seja na faixa do cidadão! Pessoas que têm liberdade de operar legalmente em um grande número de faixas e modos, seja para falar com o sul do país, seja pra falar com o vizinho de bairro. Mas ao invés de honrar a licença e o COER que possuem, acham melhor operar criminosamente em uma frequência que não lhes pertence, à semelhança de certos movimentos ditos sociais que se acham no direito de invadir e ocupar o que quiserem, desde que esteja “vago”. Nossa ojeriza se dirige à essas pessoas que desrespeitam e jogam no lixo aquilo para o qual se dedicaram a estudar, muitos varando a madrugada: o direito de ser radioamador.

 

Muitos irão dizer: “aquelas frequências estão desocupadas”. Não estão não. Não devemos esquecer que as ondas eletromagnéticas se propagam circundando o globo terrestre, via ionosfera, e assim podem alcançar milhares de quilômetros. Assim, ao falar com um “companheiro”, estes criminosos podem estrar atrapalhando a radiocomunicação do outro lado do mundo. E isto se torna extremamente sério quando vemos que certas frequências ocupadas destinam-se, fora do Brasil, a comunicações de emergência.

Outros dirão que seus “usuários” são pessoas de bem, que lá existe respeito, honradez, etc etc etc. Em resposta, repetimos apenas o que diz a Lei e as normas éticas: Não somos autorizados para operar lá. NÃO NOS PERTENCE, NÃO TOCAMOS. Infelizmente, porém, em nosso país parece prevalecer o contrário: SE NÃO É DE NINGUÉM, É MEU!

Deixamos, portando, o nosso mais veemente PROTESTO contra todos os que, possuindo um COER e uma LICENÇA, preferem operar ao arrepio da lei, criminosamente, escondidos atrás de nomes de animais, de cidades, de profissões, de forma covarde.

VIVA O RADIOAMADORISMO!
ABAIXO A ILEGALIDADE E A FALTA DE ÉTICA!

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