Neste domingo, 02 de Dezembro de 2018, foi lançado com sucesso um balão carregando uma carga útil inédita em nosso país: uma radiossonda RS41, da empresa Vaisala, que foi lançada a partir da estação meteorológica de altitude (EMA) da Infraero de Londrina.
Para quem não sabe, diariamente são lançadas dezenas de balões atmosféricos que carregam radiotransmissores, chamados de radiossondas, que monitoram diversos parâmetros da atmosfera como a temperatura do ar, umidade relativa e pressão atmosférica, bem como uma receptor [antena] GPS para registrar o deslocamento da sonda, que permite a medida da direção e velocidade do vento. Com estas informações, são elaborados constantemente os boletins de previsão do tempo apresentados na TV, rádio e internet. Estes dados também são vitais para a segurança e eficiência da aviação.
A vida útil de um balão contendo uma radiossonda limita-se ao tempo em que permanece no ar. Após subir até determinada altitude, o balão estoura e cai, e a partir daí, qualquer pessoa pode ficar com a radiossonda, caso encontre uma. Basta estar no lugar certo e na hora certa, ou então, tentar encontrar utilizando o próprio sinal da sonda para estimar o local aproximado da queda e uma simples antena direcional para ter a localização precisa. Como dissemos, diariamente são lançadas dezenas de sondas no Brasil.
Estas sondas operam na frequência de aproximadamente 403MHz, portanto fora das faixas de radioamador. Alguns colegas perceberam que certos modelos podem ser facilmente modificados para operarem dentro da faixa de 70cm, que vai de 430 a 440MHz. Essas radiossondas da última geração (RS41) são construídas a partir de componentes eletrônicos de uso geral cujos “datasheet” ou folhas de dados podem ser facilmente obtidos, o que permite reprogramá-las com facilidade. Essa nova programação faz com que a radiossonda passe a transmitir dentro da faixa de 70cm do serviço de radioamador. Além disso, a radiossonda passa a transmitir usando modos conhecidos como CW, RTTY e AX.25 (APRS). Foi exatamente um destes modelos que foi coletado por um colega radioamador de SP, o Luciano, PY2OAL.
Os dois modelos de radiossondas usados no Brasil. O da esquerda, não pode ser modificado; O da direita, sim, e foi o modelo usado para a experiência do projeto Ícaro.
Daí, juntamente com o Projeto Ícaro (Introdução ao Conhecimento da Atmosfera pelos RadiOamadores) vários colegas colaboraram para que esta radiossonda fosse reprogramada, testada e agora lançada com sucesso neste domingo.
Transmitindo continuamente na frequência de 435,3 6MHz sinais em CW, RTTY e APRS contendo informações sobre sua posição e altitude, seus sinais foram captados por vários colegas da região que enviaram registros de recepção. E quem estava longe do alcance via rádio também pôde participar da experiência, já que o receptor WEBSDR da cidade de Pardinho, SP, também captou seus sinais permitindo a qualquer pessoa com uma conexão à internet ouvi-los também.
Lançado da cidade de Bauru, SP, o balão subiu até a altitude de 35.244 metros, quando estourou, superando a expectativa de altitude máxima prevista, que era de 34 mil metros. A descida da sonda ocorreu numa velocidade acima da estimada. A hipótese é que o paraquedas tenha se enrolado com os restos do balão no momento do estouro. Porém, isso não causou maiores prejuízos à experiência. Por meio do GPS, foi determinado que a sonda caiu próximo à cidade de Dois Córregos, SP, numa região de mata atlântica, o que torna difícil sua recuperação, infelizmente.
Mas a experiência deu muito certo e espera-se que o projeto Ícaro tenha êxito em outros lançamentos nesta interessante e praticamente inexplorada área do Radioamadorismo no Brasil. Para maiores informações sobre o Projeto Ícaro, visite a sua página oficial: http://projetoicaro.qsl.br/
Um uso bastante interessante é sugerido pelo Luciano, PY2OAL:
"Uma sonda dessas daria para levar o radioamadorismo para as escolas. De que forma? Colocando uma sonda dessa num lugar estratégico na cidade dá para monitorar em várias escolas com uma mesma sonda, mostrando para os alunos como funciona, convertendo os dados no computador, trabalhando com ele nas matérias de física, com gráficos e números na matemática, ciências e outras disciplinas. Só está faltando alguém adotar uma escola, ou um amigo professor e levar esse simples projeto para divulgar nosso hobby"
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